MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

DISCURSO NO LANÇAMENTO, DE JOAQUIM MURALE, AUTOR DO PREFÁCIO

panorâmica da sala

Joaquim Murale lendo o seu discurso
Senhoras, senhores, amigos, uma boa tarde a todos.
Se hoje estou aqui, na minha cidade natal, não é apenas para corresponder ao honroso convite que me foi feito por Zulmira Baleiro para apresenrtar o seu livro, o que já seria motivo suficiente, mas porque considero ser o seu livro um facto importante sob várias perspectivas. " Marta - O Adeus Precoce da Minha Estrela Maior", é muito mais do que uma homenagem de uma mãe à filha que viu partir numa idade em que a vida era apenas uma promessa; é muito mais do que a revelação de uma jovem que a morte levou aos 21 anos de idade.

É verdade, Marta, com a publicação deste livro, a tua mãe Zuzu cumpre a promessa que te havia feito! o nascimento deste livro representa um passo mais, no longo caminho que a dor da tua partida deixou na alma dos que te perderam: tua mãe, teu pai, tua irmã, teus avós, teus tios, teus primos, teu companheiro, teus amigos. A dor que os acompanha em privado há 20 anos torna-se agora pública. Por isso, este livro, para além de uma homenagem , é uma forma de te dar vida, de te trazer de novo ao convívio dos viventes, numa dimensão diferente, é verdade, mas mais intemporal do que a nossa própria vida, porque, através deste livro, a tua memória perdurará para sempre. 

Este livro, Marta, revela-nos que a perda de um filho cava na alma da sua mãe uma dor sem fim, sem tamanho, uma dor com a qual não sabe lidar, que a atormenta e desinquieta nas vinte e quatro hjoras do dia. E esse é um dos aspectos em que este livro é importante. Através dele, outros pais que a mesma dor visitou encontrarão apoio, consolo e compreensão. Através dele, todos nós, que a vida põe em contacto diário com famílias em luto, ganhamos mais consciência para a dimensão deste sofrimento e, por isso, mais preparação no trato com os atingidos.
O que é normal na vida é que sejam os filhos a fechar os olhos dos pais. A tua partida, Marta, em plena juventude, foi um acto anti-natura. Nestas condições, em que a mãe vê partir um ser que ganhou vida de si, a morte de um filho é um pouco a morte da mãe que o gerou porque a vida de uma mãe que perde um filho nunca mais será a mesma. Ao trazer à luz algumas das cartas que te escreveu ao longo dos vinte anos em que decorre a tua ausência, a tua mãe revela-se uma mulher de coragem por aceitar expor-se e revelar-nos a sua fragilidade, a confusão de sentimentos que por vezes a habita, a sua incompreensão e a revolta por uma realidade que não consegue admitir.

Por outro lado, um casal é a união de duas metades diferentes, seja no sexo, seja na personalidade, seja nos gostos. As formas de sentir são igualmente diferentes. Quando o luto por um filho toca um casal, as maneiras de viver a perda são quase sempre distintas. É por essa razão que, desgraçadamente, à dor da perda se junta muitas vezes o infortúnio do desentendimento de um para com o outro. E quantos laços se não desfazem por isso! Não possuímos estatísticas, mas sabemos, de outros casos, que são muitos. Tua mãe, Marta, não escondeu essa situação nas cartas que te escreveu, não fugiu dela. Mas aconteceu que os laços de amor que unem a tua família foram mais fortes do que todas essas dores e mantiveram a tua família coesa.

Neste livro, Marta, que a tua mãe organizou em quatro partes, constam ainda testemunhos genuínos e pungentes de familiares e de amigos que conviveram contigo. Esses testemunhos revelam, além da saudade que deixaste em todos eles, o teu carácter bondoso, meigo, solidário, direi mesmo apaixonado na forma como te dedicavas às pessoas e às causas que abraçavas - que eram grandes, como a tua alma: a paz e harmonia entre os Povos, a justiça e a igualdade entre os Homens. Tão grandes sonhos, só num grande coração! Tenho a certeza, Marta, de que se, hoje, pudesses estar entre nós, a tua voz se ouviria clamar contra a prepotência e a injustiça daqueles que regem os destinos do nosso país e do mundo, pedindo pão, saúde, amparo e paz para os povos de Portugal, da Europa e do mundo inteiro.

No terceiro capítulo deste Livro, a tua mãe remete-nos para o seio da vida familiar. Assim assistimos ao teu nascimento, crescimento, à tua exploração da vida, ao conhecimento do corpo, à descoberta dos sentimentos, das emoções, à vivência dos primeiros desencantos e decepções, à consciência de que o mundo que nos rodeia é distinto dos nossos sonhos e que a vida é, para quase todos nós, uma realidade dura e complexa onde se cruzam medos, desejos e sonhos e na qual o trabalho digno e porfiado nem sempre recolhe a parte de sucesso que o justificaria.

A ligação afectiva com os teus pais, com a tua mãe, a criação das primeiras amizades, os anos difíceis da pré-adolescência, as primeiras paixões, os pequenos segredos e cumplicidades e as grandes decisões estão patentes na terceira parte do livro, a par de imagens que mostram a tua beleza tranquila, morena, apaziguadora, para que os olhos dos leitores te possam fazer justiça. Mas igualmente, as dúvidas e as interrogações da tua mãe sobre a maneira de te educar estão presentes nestas páginas, que nos remetem para o sempre profundo mas delicado relacionamente entre pais e filhos. Por este livro, o teu livro Marta, passam ainda hábitos e costumes de uma família, a tua, no trablaho e no lazer, as suas preocupções e a sua adaptação à envolvente social.

E o livro encerra respirando a tua presença, ora através dos poemas que escreveste, onde a tua sensibiliddae se revela e a tua alma desabafa o entusiasmo das primeiras descobertas, dos primeiros sonhos, das primeiras paixões, das primeiras, mas sólidas convicções, ora através de alguns trabalhos realizados no âmbito escolar, onde a tua capacidade imaginativa se evidencia.

Sabes Marta? eu tive o privilégio de ler este livro antes de qualquer outra pessoa. Foi assim, para além das palavras que já havia escutado da boca da tua mãe, que fiquei a conhecer-te. E é uma honra poder dizer-te, agora, que, não obstante te haver conhecido desta forma, também eu aprendi a estimar-te, a bem-quer-te, também eu fiquei teu amigo porque a sinceridade e a generosidade da tua alma faziam e fazem e prendiam e prendem amigos com muita facilidade.

Deixa-me dizer-te então, querida amiga Marta, que as quatro partes deste livro constituem uma unidade dinâmica que conflui num retrato harmonioso do teu ser brilhante, o retrato de uma jovem labutando empenhadamente por construir o seu lugar no mundo, lutando por ser feliz, lutando pelo mundo também. Assim, entretecendo emoções, saudades, dores, com palavras nascidas na alma, tua mãe Zuzu, de forma segura e bela, materializou neste livro a justa e tocante homenagem que te estava prometida.

Sem receio de me repetir, e com plena convicção, afirmo que o alcance deste livro vai muito para lá de uma homenagem. Estender a mão a outros pais que sofrem a mesma dor é outro alcance que este livro atinge com distinção. De facto, saber o que acontece com outros pais que viram o chão faltar-lhes quando seus filhos partiram, não apaga as dores da perda, mas dá consolo e ajuda a encontrar estratégias de sobrevivência. Por outro lado, a autenticidade dos relatos que nos são apresentados confere a este livro o estatuto de um retrato realista de várias décadas da sociedade portuguesa dos tempos presentes. Os antropólogos, os sociólogos, os psicólogos, os hstoriadores, os investigadores sociais, encontrarão neste livro um referencial idóneo de consulta sobre as relações humanas, sobre a história da família, da sociedade e do nosso tempo.

Por tudo isto, Marta - O Adeus Precoce da Minha Estrela Maior, é um livro cuja leitura recomendo vivamente a todos, sejam pais ou ainda não, porque nos remete para a vida real e nos ensina que, sendo a vida algo tão imprevisível e frágil, não deveremos desperdiçar cada momento que passa ao ritmo das batidas do coração. Acima de tudo, nunca deveremos esconder de alguém o afecto que nos nutre sob pretexto de o fazermos amanhã porque amanhã pode ser tarde de mais.
Agradeço a Zulmira Baleiro, mãe e autora, e a toda a família Baleiro, a coragem pela exposição pública da sua privacidade bem como a Jorge Castello Branco, o editor, que tornaram possível este livro.

Antes de terminar, deixa-me ainda confidenciar-te, minha querida Amiga Marta, que a publicação deste livro vai ter na vida de teus pais, Zulmira e Zé Baleiro, particularmente na vida da tua mãe, uma importância muito maior do que a que eles imaginam e de que nem eles, neste momento, suspeitam!
E é assim, Marta Baleiro, que através deste livro, pela mão da tua mãe, tu regressas ao nosso convívio para ficar para sempre. Por isso, por ti, por teus pais e por toda a tua família, o dia de hoje tem tudo para ser um dia feliz!

Muito obrigada a todos por terem vindo. Bem-haja a todos pela atenção que me deram. Desejo-vos, Amigas , Amigos, as maiores felicidades!

Joaquim Murale
Estremoz, 18 Julho de 2015

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