MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

DIA DA MÃE (POSTAL DA MARTA)

Querida mãe

Todos nós pensamos que hoje é um dia como todos os outros mas para mim não o é, pois sinto algo de estranho quanto àquilo que vou escrever, pois eu quero  demonstrar-te o que sinto por ti, e a importância desse sentimento em mim.
Eu tenho a sensação que se escrever aquilo que sinto vou-me repetir muito, pois tudo aquilo que sinto é muito grandioso, assim acho que vou resumir em duas palavras que representam muito:
                                         Amo-te muito
Este é um dia em que todos pensamos o quanto é bom e importante ter uma Mãe, mas para mim o importante é ter-te a Ti como minha mãe.
Tenho que te escrever que tu és a mãe melhor do mundo e eu , mesmo estando longe, sinto-o ainda mais.
Penso em ti todos os dias e gostaria de poder dar-te um beijo todos os dias.O que eu sinto por ti é muito  forte, mas eu sei que isso tu entendes.
Neste postal só não entendo porque fizeram um boneco tão triste e com cara de mole, por isso vou pô-lo mais bem disposto tal como tu.
Adeus minha querida mãe, que passes um dia muito feliz e não fiques triste por não teres aí as  tuas filhas, porque estamos mais próximo de ti, do que aquilo que parece. Se fechares os olhos no Dia da Mãe vais sentir que eu estou aí a dar-te um grande beijo e a dizer:
                                 Obrigada minha Querida Mãe
                                                              Amo-te muito
                                                             Desta tua filha
                                                                 Marta Baleiro
     Beja, Maio 1993

PRIMEIRO DIA DA MÃE SEM A MARTA

8 de Maio de 1995
Querida Marta           

Passámos o fim de semana em Tavira com a Rita. Foi um fim de semana calmo e sossegado. No Domingo foi o Dia da Mãe, eu estava triste, mas ao mesmo tempo estava calma por estar com a tua irmã Rita, que faz um esforço para não nos decepcionar e procura ser meiga e receber os meus beijos, apesar de não se manifestar muito. Tu sabes como ela é. Não é muito de grandes efusões nem de grandes manifestações sentimentais, mas como sabe que eu não te tenho a ti, que me davas muitos beijos e muito carinho, ela procura receber os beijos e dar alguns em troca, mas como sabes não são muito espontâneas essas manifestações.
Cada dia que passa, sinto mais a tua falta!... Como gostarias de estar aqui connosco, em casa da Rita ... a casa é muito alegre, muito acolhedora. Tem muito Sol  e uma vista lindíssima para a Serra e para a Ria de Tavira. (...)
Hoje de manhã, fomos a Monte Gordo dar uma volta; estivemos numa esplanada na praia, povoada de velhos alemães e holandeses felizes com o Sol de Portugal. Depois fomos ver o apartamento do Dr. Borges, para onde costumávamos ir passar férias. Tu eras tão pequenina!... eras tão linda!... adoravas  a praia, o mar, o Sol, brincar com os outros meninos!...
A tua lembrança é constante dentro de mim, a tua presença física não se vê, mas eu sinto que tu nos acompanhas para onde quer que nós vamos, tu estás sempre connosco, apesar de não o dizermos uns aos outros.
A viagem de e para o Algarve torna-se muito maçadora e angustiante. Reparo no trajecto que tu, com o Paulo, tantas e tantas vezes fizeste entre Lisboa/Beja e Beja/Lisboa, vejo todos os pormenores da estrada, todos os cafés, todos os locais que rodeiam a estrada e que foram vistos por ti, muitas e muitas vezes.
Por isso, quando ali passo, sinto que a tua presença é mais forte e mais sentida.
Agora, quando chegámos a casa, por volta das 21 horas, telefonou-me a Patrícia, tua prima, dizendo-me que tinha morrido a filha da Maria Beatriz, minha prima e amiga de infância.
Se houver Vida Eterna, tu estás com ela...
A filha da Beatriz chama-se Leonor, tem 18 anos, é uma menina bonita e boa como tu, também ela morreu brutalmente e de uma morte estúpida, como afinal é a morte, estúpida e horrível!
Teve um desastre na Marginal de Cascais, com mais quatro amigas, o carro despistou-se e morreram queimadas dentro do carro. Deve ter sido uma morte terrível, nem teve tempo para fugir à morte, como tu também não tiveste. Tanto que eu te dei força "Força, Marta! Não te deixes vencer pela Morte!... Força Marta, que tu és forte; Marta não te deixes ir porque a Mãe está Aqui!!!
Mas, o meu apelo não chegou até ti, os tentáculos da morte agarraram-te e levaram-te serenamente.
Penso que tu não te apercebeste que estava a chegar o teu fim, foi tão bruscamente, que não tiveste tempo de reagir à morte, e hoje eu estou destroçada e destruída.
A realidade é que para morrermos não precisamos de muito, basta a morte lembrar-se de nós, naquele momento. De ti, a morte lembrou-se tão cedo e eu não consegui afugentá-la!
Penso no desgosto da Beatriz, no que ela está a sofrer, sinto que deveria estar junto dela para lhe dar um pouco do meu conhecimento de Mãe Sofredora, de Mãe que perdeu uma filha linda, boa, meiga, e que não sabe ainda como reagir à dor.
É tão fácil dizermos aos outros que compreendemos a sua dor; é tão fácil dizermos que avaliamos a sua dor, mas, na verdade, a dor é tão grande, tão grande que só quem passa por uma situação igual é que poderá avaliar o que a outra mãe está a sofrer.
Nunca pensei que se pudesse sofrer tanto, que a angústia e a tristeza fossem minhas companheiras diárias, eu que tanto gostava de rir, de falar, de conviver, hoje convivo com a tristeza, contigo dentro de mim e nada mais me interessa.
Vou dormir, ou melhor, tentar dormir!...
Amanhã de manhã vou acompanhar a Beatriz e procurar dar-lhe um pouco de conforto.
Devia ter-se uma idade para morrer; devia ser proibido morrer-se jovem; sobretudo os jovens com vontade de viver e com muita força de vencer na vida, só se deveria morrer quando tivéssemos a nossa missão cumprida. Tu não pudeste concluir a tua e agora eu choro por saber que tenho que levar o resto da minha existência cheia de tristeza e muita saudade de ti, minha pequenina, minha "castanha", meu amor da mãe.
Beijos da mãe Zuzu

A ESPERA

28 de Abril de 1995 - Sexta-feira ,19h 45m

A Espera...
Para quê esperar? Sei que não vens.
Virá a tua irmã, a tua amiga
Tu não aparecerás...
Afinal eu não estou à tua espera!...
Tu estás sempre dentro de mim.
Sinto-te, presença suave e calma
Presença atribulada e conflituosa...
Durante nove meses esperei que te tornasses gente para que conhecesses o Mundo.
Alimentei-te com o meu sangue, senti-te mexer e remexer...
Andava angustiada porque mostravas pressa  de te libertares de mim.
Então, o médico ajudou com injecções e injecções, todos os dias levava duas!...
Andava com medo de te perder.
Sentia que trazia dentro de mim uma "coisinha”,  que iria ser muito importante para todos.
O teu nascimento foi tão doloroso ... penso que foi para nós as duas!...
O teu esforço foi tão grande que tiveste que ficar durante 12 horas, na incubadora, mas tu eras forte e conseguiste ultrapassar os teus primeiros momentos de vida.
Como eras linda! Eras uma bébé perfeita e bonita ...
Não quis amamentar-te, pois tive medo de ter uma mastite, hoje estou arrependida. Gostaria de te ter alimentado com o meu leite, durante os teus primeiros meses de vida, quem sabe se não terias mais resistências.
Como tu eras saudável! Nunca estavas doente! Estavas sempre pronta a comer!... Sorrias constantemente, eras feliz e todos estávamos felizes por termos mais uma " coisinha fofa" em casa.
Sabes? Hoje, a tua presença dentro de mim é tão forte, que te sinto dentro do meu coração.
Minha querida! Como é possível durante 24 horas sentir que estás sempre comigo?!
A tua falta é enorme. Quando o vento sopra, de mansinho nas folhas das árvores, eu penso como tu o gostavas de sentir.
Quando o Sol é forte e transpiro dentro do carro, lembro-me de quanto tu eras encalorada e ficavas vermelha com o calor!
Estou à espera da Rita. Telefonei para onde ela está, afinal ainda está na consulta!... Como ela tem sofrido, sem querer mostrar o seu sofrimento!
Sabes? Ela esforça-se para mostrar uma força interior muito grande, uma vontade de viver  mesmo sem ti, mas eu sinto, com o meu coração de mãe, que ela está a fazer um esforço grande de mais...
A mãe Zuzu